Avisos: Esta é uma história baseada em fatos reais, alguns detalhes podem ter sido alterados para preservar a privacidade dos personagens.
- Não recomendada para menores de 18 anos.
Eu estava no norte da Itália fazendo um curso do meu doutorado e após quase dez dias ali nenhum match tinha se desenvolvido. A não ser o do serial killer dos Alpes. Até que ele apareceu. Loiro, alto, sorriso largo, olhos azuis como o oceano, quase 40 anos e fotos divertidas.
Talvez pareça incongruente da minha parte que esteja procurando um parceiro não monogâmico, mas quando me deparo com um cara se declarando assim em um aplicativo de encontro tenho minhas dúvidas e até um certo preconceito. É a tal da narrativa do cara que quer se mostrar desconstruído para evitar que comportamentos tóxicos sejam assim rotulados.
A sua descrição era perfeita demais para ser verdade: "Apaixonado por arte, cultura e a sua história. PhD, solo-poly e anarquia de relacionamentos, vegetariano, apaixonado por línguas, 1,86m. Procurando ideias para a minha primeira tatuagem e novas posições de conchinha. Alguma sugestão?"
Além disso, ele colocava que falava português, mandarin, alemão, inglês e italiano. Eu sou muito desconfiada quando vejo que alguém coloca que fala português porque não foi nem uma nem duas vezes que o cara estava usando o tradutor e tinha interesse em se conectar com brasileiras e colocava isso para obviamente chamar a atenção. Ele não. Começamos a conversar em português e pelos pequenos erros de plural e gênero dava pra perceber que ele escrevia sem ajuda.
Passado no teste da linguagem, fui perguntar o que era anarquia de relacionamentos explicando que também me identificava como não monogâmica. Emendei a pergunta dando a ideia da conchinha T-Rex (aquela que a pessoa que faz a conchinha fica com uma mão encolhida como a do T-Rex enquanto a outra abraça a pessoa que recebe a conchinha). Ele respondeu que anarquia de relacionamentos seria uma versão ética da não monogamia. Também perguntou se era necessário usar roupa de dinossauro para fazer essa conchinha. E foi ali que ele me ganhou por inteiro.
A minha curiosidade foi atiçada a conhecer a tal ética da não monogamia, bem como eventualmente testar uma conchinha usando pijamas de dinossauro. Eu sequer tenho um pijama assim, mas a imagem na minha cabeça fazia sentido o investimento.
Ele compartilhou um link sobre o " manifesto para a anarquia de relacionamentos" que basicamente era um resumo do que eu acreditava nas relações entre pessoas, independente de ser amizade ou outra coisa. O manifesto partia da perspectiva da infinitude dos sentimentos como amor, que não é algo mensurável nem finito, ou seja, posso amar intensamente mais de uma pessoa e isso não quer dizer que estarei amando menos outra. Também ressalta a importância da comunicação clara para alinhamento dos sentimentos.
E assim começamos a trocar figurinhas sobre as nossas leituras não monogâmicas e achei interessante que até neste tópico existem os clássicos, como o livro "Ethical slut" que eu jamais tinha ouvido falar, mas que, ao que parece é o livro precursor da não monogamia.
O assunto fluiu fácil e descobri que ele falava português após ter passado um tempo em Portugal para a sua pesquisa de doutorado e que tinha ficado mais amigo de brasileiros que portugueses, por isso falava o português brasileiro. Seu nome era inglês, ele falava português e morava na Itália. Até o momento não fazia ideia de onde ele era. Foi então que o balde de água fria veio. Ele era alemão, mas morava na Itália fazia tempo. Até então os alemães estavam no fim da minha lista de boas experiências sexuais e, confesso, que eu tinha me deixado levar pelos estereótipos. Ainda assim, ele tinha me deixado curiosa.
As nossas cidades distavam cerca de 60km e sugeri que nos encontrássemos em alguma cidade na metade do caminho. Ele claramente fez a lição de casa e me convidou para assistirmos um pôr do sol juntos em um parque que não era longe de se acessar de carro de uma cidade que era exatamente metade do caminho para ambos. Ainda que eu já estivesse duzentos por cento entregue ao seu charme, a sua conversa, o trauma do serial killer me fez manter as noções de segurança ativas. Propus que fossemos tomar um café perto da estação e, dependendo de como tudo se passasse, podíamos ir ver o pôr do sol. Aqui um pequeno spoiler, óbvio que eu fui e foi uma das melhores decisões da minha vida.
Eu não tinha planos de ir até a sua cidade e estava dividindo quarto com um colega do curso, logo o meu hotel também não era uma opção. Ainda que não fosse a melhor das hipóteses, pensei que poderíamos transar no carro e assim resolver a questão das distâncias. Coloquei duas camisinhas no bolso da minha jaqueta e fui para a estação de saia e um sweater pensando na praticidade de um sexo sem precisar ficar pelada.
Quando cheguei na estação lá estava ele vindo sorrindo na minha direção com aquele sorriso largo e olhos azuis inebriantes. Eu sou uma pessoa muito chata com cheiros e na Europa isso faz com que meus dates sejam complicados porque existe sempre a chance do cara ter aquele cheirinho de sovaco que claramente demonstra uma falha nos hábitos de higiene. Eis que ele chega mais perto para me dar um beijo no rosto e sobe aquele cheiro azedo. Eu fui do cem ao zero em questão de segundos, meu príncipe encantado virou um pedaço de camembert azedo. Ali, todos os meus planos de sexo no carro foram por terra. Ele propôs que fossemos a uma gelateria, em clara prova de que tinha feito a lição de casa de novo porque uma das minhas fotos era com um gelato. Eu sorri ainda meio consternada com o paradoxo do cara perfeito ser fedido e logo não tão perfeito assim, aceitei e começamos a andar. A conversa novamente fluiu leve e ele me contou que tinha filhas. Me dei conta que eu nunca tinha saído com um cara que fosse tão jovem e que tivesse filhos, ainda mais filhos pequenos, o que torna a vida um tanto quanto limitada em questão de tempo e organização. Ele me explicou que passava semanas alternadas com as crianças, foi então que perguntei sobre se ele mantinha uma relação aberta com a esposa e ele disse que era ex e eu achei melhor não mergulhar nesse assunto. Conversamos tanto e sobre tudo que eu mal vi o tempo passar até que ele perguntou se queria ver o pôr do sol. Eu fiquei tão fascinada pela conversa que não queria que acabasse. Ainda assim, como de praxe, mandei a foto da placa do carro dele para um amigo.
Era um parque lindíssimo, mas a golden hour também ajudou na mágica. Ele me levou até o topo de um monte onde tinham umas pedras e descendo um nível abaixo as pedras faziam como uma cabeceira perfeita para sentar e ver o pôr do sol. A vista era tão espetacular que nem me dei conta que ele tinha trazido uma toalha de piquenique, tomates, snacks e um vinho para o momento. Ao sentarmos naquele cenário perfeito com toda aquela preparação não pude deixar de elogiar a dedicação e o lugar incrível que ele trazia seus dates. Com toda certeza aquela não era a primeira nem a última vez que ele tinha estendido aquela toalha ali e eu fico muito feliz que mais mulheres puderam ter aquela experiência, porque foi realmente inesquecível.
Ele tinha aquele olhar que poderia me comer a noite toda se fosse possível e eu já estava tão molhada que comecei a agradecer que fui de saia porque era capaz começar a escorrer pelas pernas logo logo. Não existiu um meio termo, fomos combustão instantânea. Somente nos beijar não era suficiente, precisávamos sentir um ao outro e logo a sua mão achou o caminho para dentro da minha blusa e a minha mão para as suas costas. Ele delicadamente me deitou de barriga pra cima enquanto nos beijávamos e subiu a minha blusa para a sua boca ter acesso aos meus mamilos. Ao mesmo tempo, a minha mão percorreu seu corpo até achar o cinto que ficou segundos fechado. Estávamos sozinhos lá, no topo de um monte, sendo beijados pelo sol enquanto nos masturbávamos. Meus gemidos provavelmente foram sentidos em algum lugar, mas eu não estava me importando. A sincronia que sua boca chupava meus mamilos e me beijava com seus dedos entre as minhas pernas e o sol tocando a minha pele era magia pura. Senti-lo duro em minhas mãos só aumentava a minha vontade de colocá-lo dentro de mim. Eu honestamente não me recordo como a física autorizou que eu conseguisse me levantar mesmo com o seu corpo parcialmente em cima do meu e ao mesmo tempo que nos beijávamos, mas eu sou uma pessoa obstinada, e uma decisão tinha sido tomada. Puxei-o para baixo de mim de modo que ficasse sentada nele. Sua mão afundou na minha bunda enquanto o seu rosto se perdia entre meus peitos. A camisinha ainda estava no bolso da jaqueta e eu sequer precisei sair de cima dele para alcançá-la. A física mais uma vez foi vencida com maestria. Eu abri um sorriso ao perceber que aquilo estava melhor do que o imaginado. Nossos gemidos se misturaram ao vento que começava a soprar mais forte com o entardecer e não precisou de muito para ele se render e gozou assim que percebeu que eu tinha tido um orgasmo. Ainda assim, eu estava insaciável naquele momento. A comunicação sensorial foi tão acurada que sequer precisei falar nada e ele me girou novamente ficando por cima de mim e começou a descer da minha boca, ao meu peito a mostra, meu umbigo. Eu não conseguia acreditar que ele ia me chupar ali, olhei para cima e para aquela infinitude de céu azul e só desejei que ele fosse bom porque estava tudo tão perfeito que nem cheiro nenhum de sovaco eu sentia mais e eu queria cada pedaço do seu corpo. Quando ele mergulhou a cabeça entre as minhas pernas ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Existem pessoas que recomendam produtos de skincare ou cafés ou dicas de viagem. Eu indico que um cara lindo e gostoso te chupe ao ar livre enquanto você olha o céu, acompanha o movimento das nuvens enquanto tem um orgasmo gemendo alto para um vale morro abaixo.
Eu gozei me despedindo do sol que desaparecia no meu lado direito. Aquele prazer foi compartilhado porque assim que ele veio me beijar com a cara cheia de mim eu senti que ele estava pronto para outra.
O vento tinha aumentado e o sol não mais nos aquecia. Ainda assim, nossos corpos estavam muito quentes que eu tinha jogado a jaqueta de lado antes dele descer em mim. Quando fui pegar a jaqueta vi uma pessoa esticando a cabeça ao fundo tentando nos ver. Eu logo abaixei a blusa e ele subiu as calças. Nosso momento mágico tinha chegado ao fim. Não ia ter uma segunda vez.
Ou ia?
No caminho de volta para o carro conversamos sobre a possibilidade de eu ir para a sua casa. A resposta era tão óbvia que apenas o meu sorriso divertido já disse tudo. Seguimos de mãos dadas até o carro e durante o caminho para a sua cidade. Ele tinha acabado de reformar o apartamento então ainda estava com cheiro de novo. Um dos quartos ele estava preparando para alugar enquanto o seu quarto tinha uma cama de casal suspensa e um beliche para os filhos. A sua cama suspensa, também conhecida como caverna, tinha uma iluminação especial, cortinas e até um espelho. Se eu fiquei um minuto de roupa em cima da cama dele foi muito. Dessa vez foi um sexo longo, gostoso com muitos carinhos e beijos. Concluímos nossa segunda garrafa de vinho enquanto conversávamos e nos procurávamos mais uma vez. Fizemos isso basicamente a noite toda com pequenos intervalos de hidratação e recuperação, momento em que surgiam os mais diversos tópicos. Ele tinha me deixado ainda mais insaciável. Eu parecia uma máquina de orgasmos que quanto mais orgamos eu tinha, mais eu queria.
Ele despertou em mim vontades que eu nunca tinha tido antes. Em determinado momento da recuperação começamos a nos masturbar e quando eu vi estávamos ambos masturbando um ao outro e brincando com o ânus do outro antes de iniciarmos mais uma rodada de puro prazer.
É engraçado que ele fala todas as línguas que eu conheço, mas em determinado momento eu pedi para fazermos de quatro e ele me olhou dando de ombros porque não tinha entendido. Tentei em inglês e francês e nada. Demos risada, nada que a mímica não resolvesse. Em alguns casos de fato ações valem mais que palavras. Enquanto muitos caras adoram transar de quatro ele adorava contato visual. Eu também gosto, mas confesso que nunca tinha tido a experiência de alguém me olhando como se estivesse olhando para a minha alma enquanto me penetrava.
Eu tentei dormir, mas se fechei os olhos por duas horas foi muito. Ele sentiu que não estava conseguindo dormir e perguntou se eu já tinha feito meditação tântrica. No cilada tântrica (ainda para ser publicado) vocês vão entender como isso foi uma espécie de gatilho pra mim. Preferi mentir e disse que não. Ele então pegou a minha mão e colocou em seu peito e olhando no fundo dos meus olhos me disse para fazer o mesmo e equilibrarmos as nossas respirações. Enquanto respirávamos sincronizados um milhão de coisas passavam pela minha cabeça desde 'eu quero me mudar pra cidade dele e viver um romance', 'será que eu seria uma boa madrasta?', 'será que esse momento junto está sendo tão sensacional pra ele quanto pra mim?'. Muitos questionamentos sem resposta até que calmamente ele veio se aproximando e me beijou. Então meus pensamentos se acalmaram e eu só queria saber de estar nele, com ele, junto. Mais um sexo extraordinário aconteceu, até que nos embalamos nos braços um do outro. O seu cheiro de suor era ainda mais forte, mas eu sentia que tinha sido misturado com cheiro de sexo e eu já nem conseguia distinguir o que estava cheirando mais forte.
O despertador tocou e tivemos que ignorar para o nosso sexo matinal de despedida. Dessa vez foi algo intenso como se a cada movimento fosse um sinal de que queríamos fundir um no corpo do outro. As minhas coxas doíam, mas eu não me importava. Os meus dedos afundavam nas suas costas enquanto ele me fazia gozar para gozar logo em seguida.
As suas mãos brincavam pelo meu corpo ignorando que eu tinha um trem para pegar logo em seguida. Ele começou a perguntar o significado das minhas tatuagens e eu expliquei. Perguntei se no perfil dele ele estava realmente procurando ideias para tatuagem e expliquei um pouco do processo criativo por trás das minhas. Compartilhei que a minha próxima tatuagem seria com uma capivara e ele nunca tinha ouvido falar desse animal. A tradução de capivara em alemão é porco da água. Eu dei risada. Ele me chamou de capivarinha e beijou a ponta do meu nariz dando um sorriso divertido.
Eu entrei no modo proteção. Se eu me vestisse e fôssemos tomar café da manhã como um casal, eu provavelmente não iria embora. Iniciei o modo prática e até um pouco fria. Tomei banho, me vesti, mantive distância física apesar de o meu corpo gritar de vontade de mais um abraço, mais um carinho. Ele tinha preparado uma mesa de café da manhã mas eu me limitei a comer uma maçã e controlar o horário pelo relógio do forno. Os questionamentos voltaram à minha mente. Aquilo poderia ser a minha vida. Ele poderia ser o que eu tanto procurava. Ele atendia a todos os meus critérios para um relacionamento.
Em uma de nossas conversas ele mencionou que tinha recebido uma oferta de emprego em Viena para começar depois do verão, quase que respondendo a alguns dos questionamentos da minha cabeça. Ele me levou até a estação, eu dei um selinho de tchau. Depois ele mandou uma mensagem super fofa me chamando de "capivarinha" perguntando se tinha pego o trem e eu me limitei a dizer que sim. Quem sabe existe essa de as pessoas certas, aparecem no momento certo, mas no lugar errado com o cheiro diverso do esperado?