Quermesse
Para comemorar o dia do sexo, inicio uma série de um capítulo da minha vida que poucos conhecem.
São João - Di Cavalcante
Alerta: Essa é uma história baseada em fatos reais, alguns detalhes podem ter sido alterados para preservar a identidade dos participantes.
Não indicada para menores de 18 anos.
Era uma sexta-feira e eu estava ilhada na casa da minha madrinha no ABC paulista. Ele não tinha nada que fosse o meu tipo, moreno, olhos escuros, meio magro demais, mas ele tinha umas fotos interessantes que me chamaram a atenção. Começamos a conversar e eu pedi que ele me contasse algo curioso sobre o momento que uma das fotos foi tirada.
- Adorei esse filtro de espelho sujo nas suas fotos
- haha vi que tenho várias fotos no espelho.
- Gostei das suas fotos também <3
- A minha favorita sua é a primeira, me conta algo curioso desse momento/lugar?
Ele disse que aquela foto era por si curiosa porque foi tirada no apartamento de uma menina que ele foi comprar um isqueiro e acabou quase dormindo com ela, o quase foi porque nenhum deles tinha camisinha e ficaram em um meia nove eterno, segundo ele. A conversa do chat foi para uma chamada que não deu certo ser vídeo porque a câmera ficava travando. No que deu pra ver ele não parecia estranho, pelo contrário tinha um quarto estiloso, ainda que, conforme minha amiga atestou “ele tem voz de cabeleireiro gay”. Nos ligamos por telefone e a conversa fluiu até o ponto que eram 02 da manhã e eu precisei desligar. Convidei-o para ir a uma Quermesse na cidade da minha tia, aquelas mesmas de igreja com bingo, música típica de quermesse de qualidade questionável e comidas gostosas de origem duvidosa. Ele topou e falou que nunca tinha ido a um date em Quermesse. Marcamos para sábado e nos despedimos.
No sábado passei o endereço e combinamos de nos encontrar lá. Eu nunca tinha ido naquela Quermesse, mas era famosa. Chegando lá, era tudo o que eu esperava e sentia vontade de usar meu sábado a noite. Nos encontramos no bingo. Eu com roupa soltinha, cardigan vintage e tênis. Ele de tênis, sweater e uma corta vento meio anos 80. Talvez tenha sido a roupa mais despojada que eu fui a um date, mas afinal era Quermesse no mês de junho.
A conexão foi instantânea porque os dois amaram o lugar. Acho que a minha experiência de Quermesse não foi validada pela opinião dele, mas ainda mais exaltada. Ele sentiu a mesma coisa e logo quis me beijar. Eu recusei. Falei que estávamos nos divertindo tanto que se o beijo fosse ruim, perderia a mágica e ia ficar um clima estranho. Comemos, jogamos nas barraquinhas para tentar conseguir um tubarão coberto de lantejoulas, mas conseguimos apenas um chaveiro de perereca (o que era exatamente o que cabia na minha mochila naquele momento – nada acontece por acaso), perdemos no bingo e ele não ganhou um maravilhoso espremedor de frutas vermelho. A tensão sexual entre nós foi aumentando até o ponto que apenas segurar as mãos ou andar abraçado não era o suficiente. E foi indo em direção à fila do quentão que ele, segurando a minha mão, me puxou para perto e me deu um beijo suave. Não foi um beijo ruim, mas foi um beijo sem sal, aquela pegada brasileira que é raro encontrar em outro lugar faltou.
Durante a nossa conversa do dia anterior perguntei se ele fumava porque uma das fotos ele estava segurando um cigarro. Ele disse que fumava muito pouco tabaco, até porque preferia haxixe. Quando disse que apenas tinha fumado maconha ele ofereceu para levar na Quermesse. Dividimos um e fomos conversar no carro dele porque estava começando a ficar mais frio. Ali sim, tivemos um beijo quente e intenso que fez com que minha hérnia de disco fosse esquecida e a contorcionista que existe em mim entrasse em ação no espaço destinado ao motorista.
E do beijo fomos ao assunto sexo em segundos, momento em que ele confessou que curtia BDSM, tinha um pouco de tara por pé, mas que o que deixava ele louco mesmo era ser humilhado. Humilhado? Sim, humilhado do tipo de ser diminuído, de ser inferiorizado ao se comparar com outros caras. Eu achei interessante porque geralmente os caras não gostam de escutar sobre outras aventuras sexuais da possível parceira, ainda que esta seja apenas um one night stand. Continuando o papo de BDSM ele explicou que foi em casas de swing justamente para que ele visse a parceira se relacionando com outros caras e para que ele sentisse que ela estava tendo prazer de um modo que ele nunca conseguiria dar.
Aquilo me trouxe um olhar convidativo que ele na hora percebeu e me perguntou se não queria ir com ele em uma para experimentar. Como nunca tinha ido e não tinha nada melhor pra fazer, aceitei. Durante o trajeto, ele entendeu que deveríamos estabelecer regras e uma palavra secreta de emergência. As regras eram todas voltadas para a minha segurança e diversão, o que achei um tanto quanto gentil da parte dele. A minha única preocupação era que ele, todo trabalhado no BDSM e na humilhação, se encontrasse lá, não querendo mais sair e eu me meter em uma cilada pra voltar pra casa.
A única regra que exigi era que quando pedisse para ir pra casa, era ir pra casa, sem rodeios e que isso poderia ser a qualquer hora, 23h, 02 ou até 06 da manhã. Ele me olhou com um sorriso malicioso e respondeu que estava indo comigo e que era comigo que ele ia embora. Também o fiz prometer que me deixaria em casa, afinal, da casa de swing em São Paulo até a minha tia eram quase 1h de carro.
Aquele sábado era véspera de dia dos namorados, então a casa de swing estava preparada para uma festa temática de dia dos namorados. Já na chegada nos deparamos com um dress code que não tinha nenhuma relação com a nossa temática quermesse. Ao menos estávamos desalinhados juntos. Entre saltos, vestidos de elástico e camisas uns dois números menores para mostrar os músculos, nos acomodamos no bar. Ele então explicou como funcionava: duas pistas de dança onde ninguém dança e ficam ali só esperando o labirinto abrir. Assim que abriu, seguimos a multidão. O labirinto era repleto de cabines com mini sofá em que a porta da cabine tinha uma janelinha na parte inferior, também possui camas em quartos de vidro e muitos sofás em vários cantinhos. O subsolo contava com uma imitação de prisão com grades, celas e tudo. Como a prisão era mais escondida e estava vazia, começamos a nos pegar ali. Até que ouvi um barulho e tinham dois casais transando juntos. As mulheres sentadas com os vestidos de elástico cobrindo apenas o umbigo se revezavam em chupar os caras em pé com as calças abaixadas. Dois minutos depois a prisão estava cheia de curiosos e eu me senti desconfortável. Subimos e encontramos uma cabine vazia. E foi ali que nossas roupas despojadas formaram camadas no chão. A minha contorcionista entrou em ação e eu sentei no sofá com as pernas abertas e ele me devorou de um jeito que fazia algum tempo que não era chupada. Alternamos o sexo oral e eu pelo visto também não desapontei. Ainda que ele fosse bem mais alto que eu, ainda era um tamanho suficientemente bom para que eu conseguisse me ajoelhar no sofá e ele me pegar por trás. Foi nesse momento que percebi que a janela da nossa porta estava destrancada e tínhamos espectadores. Ninguém falava nada, só observava. Alguns caras estavam se masturbando. Por um momento eu fiquei um pouco envergonhada, mas assim que ele entrou em mim, não pensava em outra coisa senão o que eu e ele estávamos vivendo. Gozei. Ele quis esperar, disse que queria aproveitar mais.
Conhecemos, no fumódromo, um casal que também estava com dress code quermesse com seus por volta de 40 anos. Eles explicaram que eram frequentadores de casas de swing e que tinham se conhecido no tinder fazia uns 11 meses, mas já moravam juntos. Ele era psicanalista e ela terapeuta holística. Ele me olhava como se eu fosse uma fatia de bolo na frente de alguém que está em dieta. Voltando ao labirinto fomos parar no quarto aquário e quando vimos o casal estava lá se pegando também. O moço da quermesse estava excitado com a possibilidade de transarmos os quatro, mas eu não me senti atraída por eles. Saímos e deixamos o casal se pegando. As cabines estavam todas ocupadas e as janelas que eram usadas por curiosos também eram usadas para caras fora da cabine colocarem seus membros duros na espera de um carinho de uma pessoa estranha dentro da cabine pronta para oferecer.
Paramos em um sofá num canto e começamos a nos pegar até que ele tirou a minha calça e começou a me chupar. Fechei os olhos. Quando abri tinha uns seis caras parados ao nosso lado se masturbando. Um deles se aproximou e começou a me acariciar. Eu sempre tive um fetiche de fazer um ménage à trois com dois homens e uma das posições seria eu masturbando um deles enquanto o outro me chupava/fodia. Enquanto acariciava o senhor estranho com a mão fechei os olhos em regozijo por, de alguma forma, ter conseguido essa façanha. Abri os olhos e um terceiro cara tentou me beijar, virei a cabeça em negativa. Eu o afastei e levantei. Os caras se masturbando tinham se afastado. O moço da quermesse começou a me beijar e falar que ficou muito excitado ao me ver masturbando outro cara e queria saber se eu gostava mais do pinto dele do que do seu. Falei que precisava senti-lo novamente para ter certeza. Senti ele dentro de mim novamente, mas ele não estava tão duro. Aí que ele chegou perto do meu ouvido e pediu para ser humilhado, para dizer que o sexo dele era ruim, que ele era brocha.. Eu fiquei chocada com aquilo e me deu vontade de rir. Então eu ri, ri alto, gargalhei. Ele ficou tão excitado que gozou. Depois ele me ajudou a gozar com as suas mãos. Ele de fato sabia o que estava fazendo, independente se usando a boca ou os dedos. Fui ao banheiro e encontrei o cara que eu tinha masturbado, ali naquele ambiente parecia uma realidade totalmente diferente e meu lado puritana me questionou o que eu estava fazendo ali. Pedi para ir embora, ele não questionou. Fomos.
No dia seguinte eu estava indo para São Paulo visitar uma amiga, mas ela só chegaria em casa no final da tarde. Estava um dia lindo e decidi ir para um café ler ao ar livre. Por coincidência, descobri que ele morava perto do meu café favorito. Ele me ofereceu tomar café na casa dele. Aceitei. Na saída do metrô lá estava ele com uma calça vermelha de moletom e uma bomber brilhosa com as cores da bandeira do Chile. Além do café me ofereceu um brunch, com ovos, pão e suco de laranja. Passamos pelo supermercado e por um segundo pareciamos um casal fazendo compras de domingo. Só faltaram as flores.
Após o mini tour no apartamento, deixamos a roupa pela cozinha mesmo e fomos ao que interessava, que no fundo não era o café. Não teve toda aquela enrolação, sedução do “deixa eu cozinhar pra você”, foi direto ao ponto o que eu amei. No sexo novamente ele pediu para eu o humilhar e eu não sabia o que fazer. Acredito que vendo a minha cara de questionamento ele pediu para eu cuspir nele e eu fiz, duas ou três vezes até ele gozar. O quarto parecia um grande playground para jovens adultos. Livros, plantas, um boné escrito "Make coentro great again" e algumas câmeras. Me chamou a atenção uma câmera digital rosa porque eu tive exatamente aquele modelo alguns bons quinze anos atrás. Ainda nus na cama pedi para tirar algumas fotos. As fotos ficaram engraçadas. Eram fotos do meu pé, da sua mão, um pedaço do seu mamilo. Nos vestimos pela metade e cozinhamos juntos. Fomos ver o pôr do sol no seu terraço, ou melhor, telhado. A vista era incrível. Como começou a esfriar, descemos e ele me mostrou seus projetos de criação de NFT. Ele gravava trechos de fitas e colocadas sobrepostas criando ruídos e imagens distorcidas. As luzes coloridas com certeza davam um ar meio psicodélico. Achei muito interessante e poderia ficar horas ali, mas tinha combinado com a minha amiga que jantaríamos juntas. Já no metrô, revendo as fotos das fotos que tinha tirado, percebi que era dia dos namorados e que tínhamos passado boa parte do dia juntos. Foi gostoso tê-lo como meu namorado por quase 24h.
Fui embora de São Paulo e continuamos conversando deixando claro que as portas da oportunidade permaneciam abertas, mas com humilhação.